As experiências espirituais são fenômenos sensoriais muito distantes da nossa compreensão. O inconsciente coletivo é cheio de experiências que são explicadas de formas diferentes de acordo com cada cultura, crença ou religião. Essas experiências são vivenciadas de forma individual e coletiva.
Nas fotografias de Guy Veloso, vemos muitas pessoas, a princípio, desconhecidas, que nas fotos representam esses personagens em momentos de transe espiritual. São fotos que vão além da documentação do fato. Percebemos um esforço do fotógrafo em conseguir, através da linguagem, aproximar-se do transe desses personagens.
Essa aproximação do artista é percebida pela falta de foco e nitidez em algumas fotos. Como representar um experiência de transe? Qual estratégia usar para dialogar com um fenômeno imaterial? É um desafio pelo qual muitos artistas já passaram e a abstração parece ser um caminho interessante a ser seguido.
A abstração é uma fronteira generosa entre a proposta feita pelo artista e a experiência estética do espectador. É como se o artista deixasse um espaço maior para o seu público entrar e criar outras possibilidades de interpretações.
Um outro ponto marcante nessas fotografias é o olhar dos retratados para o alto, os céus, na possível busca por alguma resposta, uma comunicação não verbal entre eles e o Além. A expressão no olhar das pessoas, quase acanhadas, reflete a aceitação de uma hierarquia, como se os crentes estivessem em uma posição inferior diante das grandes forças do universo.
O espaço de “transe” parece ser o lugar de encontro entre essas grandes forças chamadas de “Deus”, “energias da Natureza”, “Orixás”, etc. com as pessoas. São tantas possibilidades de diálogos, conversas e trocas que a linguagem falada, verbal e gestual não dá conta da comunicação. Entretanto, para nossa sorte, Guy Veloso aproxima-nos por meio de sua fotografia dessa experiência sutil e intensa.
